Até Filmagem Secreta

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Até Filmagem Secreta

O ESCRITORIO DO EMPRESÁRIO paulista Laerte Codonho conta com equipamentos ainda incomuns em ambientes feitos para tratar de negócios. São duas câmeras de vídeos, estrategicamente escondidas. Codonho tem por hábito desafiar sua localização.” Pago 1000 reais se você as achar”, diz ele, em tom de galhofa. Codonho sempre ganha – é quse impossível localizá-las. Uma das câmeras fica atrás de um quadro, com a pintura de um vaso de rosas vermelhas. A outra foi instalada no lado oposto incrustada no batente de uma das portas do escritório. Foi com esses equipamentos que Codonho, de 43 anos, mais de 1,90 metro de altura, dono de estilo agressivo, produziu munição pesada para enfrentar uma das mais ruidosas guerras comerciais já vista no Brasil.

 Codonho é dono da Dolly, marca na nacional de refrigerantes criada por ele em 1987. Com três fábricas, uma participação de mercado de modestos 2% e faturamento estimado em 200 milhões de reais por ano, a empresa é hoje uma fonte de dor de cabeça para o americano Brian Smith, presidente da subsidiária brasileira da Coca-Cola, que faturou 5,5 bilhões de reais em 2003. A Dolly não irrita a Coca-Cola por seu poderio de mercado, evidentemente. O que incomoda a multinacional proprietária da marca mais valiosa do mundo são as acusações que o empresário Codonho tem em mãos. Tudo materializado em um punhado de fitas de vídeo do tipo VHS. Elas mostram o diálogo em que um ex-funcionário de uma engarrafadora que presta serviços à Coca-Cola admite que a companhia para a qual trabalhava deixou de pagar impostos ao tesouro paulista. Para a Coca-Cola que mantém uma relação umbilical com seus engarrafadores, a denúncia equivale a dizer que a própria companhia americana deixou de pagar impostos. Legalmente não é as sim que as coisas funcionam, mas o caso vem sendo tratado como se atingisse diretamente a Coca-Cola.

  Basta ver as atitudes da Brian Smith desde que a denúncia estourou. Ele já procurou o governador Geraldo Alckmin e informou que a engarrafadora efetivamente devia o ICMS, e que os valores seriam recolhidos. Depois disso, contratou três escritórios de advocacia para lidar com o problema. Na quinta-feira, dia 29. Smith veio a público para dar uma declaração em que admite pela primeira vez, desde que começou o confronto entre as duas em presas que uma engarrafadora de Coca-Cola, de nome Spal, deixou realmente de recolher tributos. A informação passada por executivos da Coca-Cola é que o débito da ordem de 75 milhões de reais, já foi honrado.

  Tiro que vai, tiro que volta. Na batalha dos refrigerantes, a Coca-Cola também deu seus disparos contra a Dolly Os executivos da multinacional relacionam o nome de Codonho a deslizes mais leves e a outros de maior gravidade. Entre os mais leves. Codonho é acusado de ter colocado a mão, de forma inexplicável, em documentos internos da companhia arquivados no escritório da Coca-Cola em Brasília. Codonho mostrou a EXAME cópias de e-mails e notas fiscais da empresa americana. Perguntado sobre como as consegui, informa: “Esses e muitos outros papéis me foram enviados anonimamente”.

  Entre os deslizes mais pesados, a Coca-Cola acusa Codonho de também ter deixado de honrar pagamentos de ICMS aos cofres paulistas. Mais, acusa o dono da Dolly de manter uma rede de empresas registradas em nome de laranjas. Quem vocaliza essa denúncia é Fernando Ramazzini, diretor da organização não-governamental Associação Brasileira de combate à falsificação, que esteve na redação de EXAME acompanhando executivos da Coca-Cola. “Trata-se de um esquema tremendo de sonegação fiscal”, diz Ramazzino.” Essas empresas fantasmas são constituídas para que o Codonho possa fazer essa sonegação toda.” Segundo Ramazzini, até o final de 2002 uma engarrafadora dos refrigerantes Dolly em São Paulo devia ao Tesouro paulista 35 milhões de reais em ICMS não recolhidos. Codonho responde às acusações da seguinte forma: “Sobre as empresas em nome de laranja, é mentira. Elas não existem, hoje não devo mais nada”.

 

  Para encerrar a lista de acusações, ele também está sendo apontado como autor de uma chantagem, foi oque disse o mexicano Jorge Torres, diretor financeiro da Femsa, empresa proprietária da tal engarrafadora Spal, pivô do desentendimento entre Dolly e Coca-Cola. A engarrafadora foi recentemente comprada pelo grupo de Torres. Daí porque ele se diz tranquilo ao falar sobre o episódio. Em entrevista a EXAME, Torres conta que num dos encontros que tive.

fonte: EXAME

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